
Para a Minha Mãe
Oi, mãe,
Tô aqui no avião indo pra Argentina, um bocado cansado, é verdade, porque ainda tô me acostumando com tantas viagens e aos horários, e já não sou mais aquele jovem que topava tudo sem ter consequências no ânimo. Mas ainda topo quase tudo, só me custa um pouquinho mais. Porém, como sempre te digo, eu dou conta.
Hoje queria falar sobre você, mãezinha, e queria te dizer que você pode viver a vida tranquila e sem se preocupar tanto comigo e com meus irmãos.
Tá tudo bem, você já trabalhou muito até aqui. Se dedicou, se doou, passou noites e noites acordadas, não só quando éramos criança, mas também ainda hoje, depois de grandes, com a cabeça cheia, porque queria e segue querendo passar pelas nossas turbulências no nosso lugar. Eu queria também fazer isso pelos meus filhos, mas já tô vendo que não vai ser possível. E isso dói. Lá na alma, eu sei, eu te entendo.
Você era uma menina quando descobriu que eu estava vindo pro mundo, e logo teve que deixar de pensar só em você.
- Danilo
Certo dia te perguntei, sentados na escada lá do sítio, quais eram os seus sonhos quando você era criança. Desculpa abrir isso aqui, mas sua resposta foi muito difícil de ouvir. Você disse que não se lembrava dos sonhos que tinha. Você disse que nem sabia que era possível sonhar .
Eu fingi normalidade, mas fiquei espantado, porque você me ensinou que era sim possível sonhar. Você me permitiu sonhar, você lutou para que eu sonhasse e, mais ainda, para que eu realizasse meus sonhos.
Você era uma menina quando descobriu que eu estava vindo pro mundo, e logo teve que deixar de pensar só em você, para se dedicar por mim, deixar de dormir por mim, pensar no que eu iria comer, pensar se eu estava sentindo frio, se eu tinha dor, se eu teria o que vestir, onde morar… De improviso, a menina que não tinha sonhos agora tem um filho, uma casa, uma família.
Eu vejo que você ficou pra trás, pra depois, para que eu pudesse ter o luxo que você e meu pai me deram. Porque sim, eu tive uma vida de luxo. Ou você acha que ter sempre um colo de mãe pra cada queda não é um luxo?
Eu te perdoo mãe, porque eu sei que você se sente culpada por muita coisa, mas não tinha como você fazer diferente, você deu o seu melhor, você fez seu papel de forma brilhante. E falando agora, que também tenho filhos, ainda assim, dando nosso máximo, sempre nos sentiremos culpados por algo — ou que poderíamos ter feito muito melhor qualquer coisa. Eu sei, não é fácil, mas pode deixar pra trás qualquer peso. Tá tudo bem.
Eu abri mão também de muita coisa na vida pra realizar meus sonhos, e um dos meus objetivos era pra que você pudesse, também, ter uma vida que deixou de ter quando eu cheguei, e que foi se enchendo cada vez mais de responsabilidades e compromissos, e obrigações, e escolas, e compras do mês, e contas de água… de luz, antibióticos, preocupações…
E queria te dizer, mãe, se ainda der tempo, e acho que dá…
Pode sonhar!
O que você quer ser quando crescer?
Ainda dá tempo, sempre é tempo.
Você segue sendo dura, fiel aos seus princípios, meio cabeça dura, é verdade, mas resiliente e segue sem pausa, orando por mim e pelos meus irmãos. Então, eu não te peço nada mais, você não precisa fazer nada mais que isso. Já é tudo. Já é muito.
Agora é sua vez, mãe.
Pode sonhar!
Pode ser o que você quiser, e ainda continuar sendo nossa mãe. Conta comigo pra isso!
Te amo pra sempre.
Feliz dia das mães!